19 de agosto de 2024
O caminho, a verdade e a vida na piscicultura brasileira

Por Francisco Medeiros, Presidente Executivo da Peixe BR.

Quando fazemos uma retrospectiva da piscicultura brasileira as histórias estão muito recentes e muitos de seus personagens continuam trabalhando entre nós e compartilhando suas experiências, para a produção de uma proteína animal que já entrou no cesto de oportunidades do agronegócio brasileiro e com o andar da carruagem, se observa que vai encontrando seu espaço e se expandindo.

Com exceção da chuva, nada mais cai do céu que nos ajude a construir e levar nossa vida e negócios para frente, e no caso da piscicultura, a chuva e a água, são condições primárias para a implantação e desenvolvimento da atividade, um fator que lutamos para ter a gestão total deste importante insumo, porém ele na sua naturalidade e pureza segue seu próprio caminho, influenciando o desempenho produtivo e os resultados econômicos.

A relação do homem com a água e o peixe transcende ao nosso conhecimento da própria história humana, uma fonte proteica que com certeza nos permitiu chegar hoje onde estamos, seja no desenvolvimento muscular e principalmente intelectual, uma relação tão íntima que olhar a água e os peixes nela presentes é uma das experiências mais relaxantes que existe para os humanos, pois lá no fundo de nossas memórias primitivas, quando se vive um momento como este, vem à mente os motivos que nos levam a associar o peixe, com o nosso bem-estar.

Experiência esta, que se repete na esfera espiritual, em especial para nós cristãos, quando associamos à vinda do filho de Deus, que viveu suas experiências humanas junto a pescadores e na multiplicação e consumo de peixes.

Não há como negar que esse caminho foi longo até chegar os dias de hoje e estarmos aqui tratando da piscicultura, uma evolução do próprio homem que permitiu domesticar e cultivar os peixes para seu sustento e de sua família.

Então, esse caminho da piscicultura brasileira é um processo natural inevitável? Tudo parecia indicar que sim, desde lá nos primórdios com o Von Ihering, Pedro Azevedo e, mais recentemente, com o Castagnolli e Geraldo Bernardino, porém a natureza humana, quando se trata de trilhar caminhos de desenvolvimento, mesmo que, já outrora percorridos por outros povos e que poderia, na cabeça dos primeiros visionários, construir uma robusta cadeia produtiva aqui no Brasil, se mostrou e se mostra nas suas formas mais perversas, não importando se o Brasil esteja se destacando como o maior importador de pescado da América Latina, com um déficit de US$ 1,1 bilhão na sua Balança Comercial, em 2023.

De forma que, um caminho que parecia uma reta, se tornou à medida ia sendo construído, mais tortuoso, escorregadio, cheio de pedras e buracos.

Será que esse futuro brilhante que poderia levar nosso país para ocupar a liderança da produção aquícola mundial teria sido uma análise errada dos nossos valorosos pioneiros? De forma alguma, na verdade, as curvas, a lama, os buracos e as pedras foram colocados por pessoas, irmãos nossos que não sendo especialistas em endireitar caminhos, limpar lamaçais, tapar buracos e retirar pedras, são exímios experts em criar dificuldades e atravancar o agronegócio mais importante no contexto alimentar mundial.

São pessoas, gente como a gente que se encontram na ciência, nos governos, no mercado, enfim, no nosso meio, disfarçados de salvadores da pátria, de protetores do meio ambiente, de geradores de oportunidades, de defensores do produtor, mas no fundo mesmo, buscam tão somente seu destaque pessoal, interesses espúrios e egoísmo na forma mais pura.

A vida como ela é na piscicultura, passa por tudo isso que acabamos de citar, mas a resiliência de quem faz o setor seguir firme, como os bisões, que são os únicos animais que enfrentam a nevasca de frente, um passo por vez, pois temos a certeza que essa nevasca vai passar.

Diante de todas as dificuldades em nossas vidas em todos os segmentos, regulatórios, sanitários, tributários, econômicos, incluímos nos últimos 10 anos o peixe de cultivo no carrinho de compra do trabalhador na sua feira mensal.

O peixe de cultivo foi a proteína animal que teve o maior crescimento percentual nos últimos 10 (dez) anos no Brasil, o que é motivo de orgulho para a sua cadeia de produção, também foi motivo para o aumento da regulação por parte dos órgãos municipais, estaduais e federais, demandando mais recursos para se questionar nosso modelo de negócio, criando barreiras que aumentam custos e nos proporcionam perda de competitividade, é a burocracia e a insensibilidade pública, mostrando sua face mais perversa.

A vida de piscicultor não é para os fracos, mas esse processo seletivo a que somos submetidos diariamente, por todas as forças contrárias ao nosso negócio, por incrível que pareça, está gerando uma onda de crescimento maior do que a onda de repressão e atraso.

Enfim, cá estamos construindo uma cadeia produtiva que produz a mais nobre das proteínas de origem animal, o pescado, cujo maior produtor,
a China, já é o terceiro maior importador mundial.

Tudo passa, inclusive nós, mas o peixe que esteve com o homem em toda sua jornada aqui na terra e representa a segurança alimentar para a população mundial, continuará fornecendo alimento para o homem de hoje e de amanhã, superando todas essas dificuldades, pelo que estaremos aqui no Brasil, no caminho da produção, com a verdade e para a vida.